domingo, 19 de março de 2017

Enterrem-se os achados arqueológicos de Escariz!

Quem passa pela freguesia de Escariz, no concelho de Arouca, nomeadamente pela rotunda da Abelheira (EN 326) ou visita a EB 2,3 de Escariz, tem a oportunidade de observar a réplica de Dolmen ou Anta que ali edificaram e os vestígios que ali encontraram. Sem mais, fica com a sensação que esta autarquia respeita, protege e promove devidamente o seu património arqueológico, objeto das suas parangonas heráldicas. No entanto, assim não sucede e o verdadeiro património megalítico existente nesta freguesia permanece abandonado, desrespeitado e cada vez mais degradado. O que fica muito mal à freguesia de Escariz e pessimamente ao concelho de Arouca. E só não fica mais porque também já está sumido de notícia ou divulgação nos próprios sites da Junta e da Câmara e nunca se viu contemplado na rota dos Geossítios.

Se não estou em erro, uma das últimas vezes que o assunto foi levado a reunião de Câmara, foi já há mais de 10 anos, mais propriamente na reunião de 03 de Outubro de 2006. O então e atual vereador Dr. José Luís Alves da Silva pediu a palavra para: “Perguntar se o senhor Presidente tem conhecimento da situação degradada em que se encontra o conjunto megalítico de Escariz, designadamente a Mamoa de Aliviada, e o que está pensar fazer-se para a preservação daqueles monumentos megalíticos;
Às questões formuladas foi respondido que: A propósito desta questão o Vereador senhor Albino Oliveira referiu que a Mamoa de Aliviada está implantada em terreno particular e que foi objeto de atos de vandalismo que a descaracterizaram significativamente. O senhor Presidente referiu ainda que poderá estudar-se a recuperação do monumento e a eventual aquisição do terreno envolvente tendo em vista a sua preservação.”

Por essa mesma altura, foi colocada uma réplica de uma Anta numa das rotundas da estrada nacional, e a presidente da Junta manifestou então a intenção de fazer alguma coisa para preservar aqueles achados. Mas, entretanto, nada foi feito e, até mesmo as placas de informação relativa àqueles vestígios foram arrancadas, quiçá levadas na frente da máquina que por ali rasgou o caminho.
Caminho alargado junto à Mamoa da Aliviada, do lado direito da imagem
19.03.2017
Hoje, o comum dos mortais não identifica o valor e importância daqueles vestígios tumulares e não se inibe mesmo a fazer as suas necessidades fisiológicas por entre esses amontoados de pedras e um pouco por toda a área envolvente da Mamoa, onde nem sequer se impede o eucaliptal, que vai brotando por entre os vestígios, destruindo-os.
Placa informativa ainda existente em 2009
Nada se fez a este respeito desde então. No entanto, foi possível alargar e melhorar a estrada que lhe passa ao lado e rasgar o caminho que serve a parte Sul da Zona Industrial das Lameiradas, conquistando terreno à Mamoa. Mesmo junto a esta, mas pelo lado Sul foi possível autorizar um corredor de linhas de Alta Tensão. Ou seja, foi possível autorizar tudo e mais alguma coisa, por um e outro lado da Mamoa da Aliviada. Só não foi mesmo possível fazer-se alguma coisa relativamente a esta e à preservação dos vestígios que aí se encontram por entre o eucaliptal e constitui um dos poucos bens classificados como Monumento Nacional (desde 1992) em território arouquense.
Aspecto em 19.03.2017
O conjunto megalítico em causa começou a ser trazido à luz do dia nas férias da Páscoa de 1957, altura em que o sacerdote e professor do Seminário Maior do Porto, Domingos de Pinho Brandão, promoveu a escavação de diversos monumentos megalíticos nas freguesias de Escariz e São Miguel do Mato. Nesse ano, foram escavadas em Escariz, entre outras, as Mamoas 1, 2 e 7 da Aliviada,  Mamoas 1 e 3 do Coval, Mamoas 2 e 3 da Venda da Serra.
A atribuição de importância aos achados então trazidos à luz do dia sob a orientação daquele distinto arouquense levou mesmo a autarquia a solicitar a colocação, nas principais entradas da freguesia, de - vaidosas, mas legítimas - placas de betão com os dizeres: «CONJUNTO MEGALÍTICO DE ESCARIZ», hoje ilegíveis pelo passar do tempo e manifesto desmazelo da autarquia local. O que, atendendo ao estado da coisa, é até mesmo conveniente. Podiam mesmo retirar-se, já que, vai para pelo menos 15 anos, não têm utilidade alguma.
Placas que ainda hoje se podem observar na berma das estradas que servem a freguesia
Aspecto em 19.03.2017
António Silva, Coordenador da Carta Arqueológica de Arouca, escreveu que «...a D. Domingos de Pinho Brandão, falecido em 1988 como Bispo Auxiliar do Porto está reservado lugar de fundamentado destaque na arqueologia de Arouca...». Pena que, entretanto, os de nosso tempo, não estejam à altura de dar continuidade a esse trabalho ou, no mínimo, respeitar o trabalho que aquele desenvolveu.

Trata-se tão simplesmente do tema e símbolo que identifica a freguesia de Escariz entre as demais do concelho de Arouca. Do elemento central e de destaque na sua heráldica autárquica. O que, só por si, deveria requerer atenções redobradas por parte daquela autarquia.

Chegados aqui, volvidos precisamente 60 anos desde a data em que, nas férias da Páscoa, se trouxeram aqueles vestígios arqueológicos à luz do dia, sendo evidente a incapacidade da junta de freguesia, da câmara municipal, de alguma associação ou entidade para assegurar a preservação e salvaguarda daqueles bens, resta apenas uma solução: referenciados que estão os locais e estudados os vestígios, enterrem-se os achados arqueológicos de Escariz!
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Ainda sobre este tema:
- Entretanto...
- Recuperar e divulgar o património megalítico

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