Quem passa pela freguesia de Escariz, no concelho
de Arouca, nomeadamente pela rotunda da Abelheira (EN 326) ou visita a EB 2,3
de Escariz, tem a oportunidade de observar a réplica de Dolmen ou Anta que
ali edificaram e os vestígios que ali encontraram. Sem mais, fica com a sensação que esta autarquia
respeita, protege e promove devidamente o seu património arqueológico, objeto das suas parangonas heráldicas. No entanto, assim não sucede e o verdadeiro património
megalítico existente nesta freguesia permanece abandonado, desrespeitado e cada
vez mais degradado. O que fica muito mal à freguesia de Escariz e
pessimamente ao concelho de Arouca. E só não fica mais porque também já está sumido de notícia ou divulgação nos próprios sites da Junta e da Câmara e nunca se viu contemplado na rota dos Geossítios.
Se não estou em erro, uma das últimas vezes que o
assunto foi levado a reunião de Câmara, foi já há mais de 10 anos, mais propriamente
na reunião de 03 de Outubro de 2006. O então e atual vereador Dr. José Luís Alves da Silva pediu a palavra para: “Perguntar se o senhor Presidente tem
conhecimento da situação degradada em que se encontra o conjunto megalítico de
Escariz, designadamente a Mamoa de Aliviada, e o que está pensar fazer-se para
a preservação daqueles monumentos megalíticos;
Às questões
formuladas foi respondido que: A propósito desta questão o Vereador senhor
Albino Oliveira referiu que a Mamoa de Aliviada está implantada em terreno
particular e que foi objeto de atos de vandalismo que a descaracterizaram
significativamente. O senhor Presidente referiu ainda que poderá estudar-se a recuperação
do monumento e a eventual aquisição do terreno envolvente tendo em vista a sua
preservação.”
Por essa mesma altura, foi colocada uma réplica de
uma Anta numa das rotundas da estrada nacional, e a presidente da Junta manifestou então
a intenção de fazer alguma coisa para preservar aqueles achados. Mas,
entretanto, nada foi feito e, até mesmo as placas de informação relativa
àqueles vestígios foram arrancadas, quiçá levadas na frente da máquina que por
ali rasgou o caminho.
Caminho alargado junto à Mamoa da Aliviada, do lado direito da imagem 19.03.2017 |
Hoje, o comum dos mortais não identifica o valor e
importância daqueles vestígios tumulares e não se inibe mesmo a
fazer as suas necessidades fisiológicas por entre esses amontoados de pedras e um pouco por
toda a área envolvente da Mamoa, onde nem sequer se impede o eucaliptal, que vai
brotando por entre os vestígios, destruindo-os.
Placa informativa ainda existente em 2009 |
Nada se fez a este respeito desde então. No
entanto, foi possível alargar e melhorar a estrada que lhe passa ao lado e
rasgar o caminho que serve a parte Sul da Zona Industrial das Lameiradas,
conquistando terreno à Mamoa. Mesmo junto a esta, mas pelo lado Sul
foi possível autorizar um corredor de linhas de Alta Tensão. Ou seja, foi possível
autorizar tudo e mais alguma coisa, por um e outro lado da Mamoa da Aliviada.
Só não foi mesmo possível fazer-se alguma coisa relativamente a esta e à preservação
dos vestígios que aí se encontram por entre o eucaliptal e constitui um dos
poucos bens classificados como Monumento Nacional (desde 1992) em território arouquense.
Aspecto em 19.03.2017 |
O conjunto megalítico em causa começou a ser
trazido à luz do dia nas férias da Páscoa de 1957, altura em que o sacerdote e
professor do Seminário Maior do Porto, Domingos de Pinho Brandão, promoveu a
escavação de diversos monumentos megalíticos nas freguesias de Escariz e São
Miguel do Mato. Nesse ano, foram escavadas em Escariz, entre outras, as Mamoas 1, 2 e 7 da Aliviada, Mamoas 1 e 3 do Coval, Mamoas 2 e 3 da Venda da Serra.
A atribuição de importância aos achados então trazidos à luz do dia sob a orientação daquele distinto arouquense levou mesmo a autarquia a solicitar a colocação, nas principais entradas da freguesia, de - vaidosas, mas legítimas - placas de betão com os dizeres: «CONJUNTO MEGALÍTICO DE ESCARIZ», hoje ilegíveis pelo passar do tempo e manifesto desmazelo da autarquia local. O que, atendendo ao estado da coisa, é até mesmo conveniente. Podiam mesmo retirar-se, já que, vai para pelo menos 15 anos, não têm utilidade alguma.
A atribuição de importância aos achados então trazidos à luz do dia sob a orientação daquele distinto arouquense levou mesmo a autarquia a solicitar a colocação, nas principais entradas da freguesia, de - vaidosas, mas legítimas - placas de betão com os dizeres: «CONJUNTO MEGALÍTICO DE ESCARIZ», hoje ilegíveis pelo passar do tempo e manifesto desmazelo da autarquia local. O que, atendendo ao estado da coisa, é até mesmo conveniente. Podiam mesmo retirar-se, já que, vai para pelo menos 15 anos, não têm utilidade alguma.
Placas que ainda hoje se podem observar na berma das estradas que servem a freguesia |
António Silva, Coordenador da Carta Arqueológica de
Arouca, escreveu que «...a D. Domingos de
Pinho Brandão, falecido em 1988 como Bispo Auxiliar do Porto está reservado
lugar de fundamentado destaque na arqueologia de Arouca...». Pena que,
entretanto, os de nosso tempo, não estejam à altura de dar continuidade a esse
trabalho ou, no mínimo, respeitar o trabalho que aquele desenvolveu.
Trata-se tão simplesmente do tema e símbolo que identifica a
freguesia de Escariz entre as demais do concelho de Arouca. Do elemento central
e de destaque na sua heráldica autárquica. O que, só por si, deveria requerer
atenções redobradas por parte daquela autarquia.
Chegados aqui, volvidos precisamente 60 anos desde a
data em que, nas férias da Páscoa, se trouxeram aqueles vestígios arqueológicos
à luz do dia, sendo evidente a incapacidade da junta de freguesia, da câmara
municipal, de alguma associação ou entidade para assegurar a preservação e
salvaguarda daqueles bens, resta apenas uma solução:
referenciados que estão os locais e estudados os vestígios, enterrem-se os achados arqueológicos de
Escariz!
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Ainda sobre este tema:
- Entretanto...
- Recuperar e divulgar o património megalítico
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Ainda sobre este tema:
- Entretanto...
- Recuperar e divulgar o património megalítico
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